Aprendizagens associadas à organização de exposições de
divulgação da matemática
(1) Tutora do Grupo PET Matemática – Coordenadora do Programa “O laboratório de ensino e as mídias na formação dos professores que ensinam matemática”; Prof. Adjunto Instituto de Ciências Exatas e da Terra; Campus Universitário do Araguaia; Universidade Federal de Mato Grosso.
wannara@ufmt.br
A alfabetização matemática é considerada essencial para a vivência plena da
cidadania, entretanto, as avaliações em larga escala acerca do conhecimento matemático da
população brasileira têm demonstrado a sua pouca familiaridade com conceitos essenciais
desta área. Foi a partir deste contexto que a Sociedade Brasileira de Educação Matemática
(SBEM) considerou a necessidade de se divulgar a Matemática como área de conhecimento
humano, sua história e suas aplicações no mundo, bem como suas relações com outras áreas
de conhecimento. Então, em 2004, por meio da deputada professora Raquel Teixeira, a
SBEM apresentou a proposta de criação do Dia Nacional da Matemática, por meio do projeto
de Lei n. 3.482/2004. O projeto foi aprovado por unanimidade pela Comissão de Educação e
Cultura e encontra-se, desde 2008, na Comissão de Constituição e Justiça para homologação
final. De todo modo, no Brasil, desde 2004, no dia 6 de maio (data de nascimento de Malba
Tahan, pseudônimo de Júlio César de Mello e Souza), várias instituições vinculadas ao ensino
e à aprendizagem da matemática comemoram o Dia Nacional da Matemática.
Em 2011 e 2012, no Campus Universitário do Araguaia da Universidade Federal de
Mato Grosso (CUA/UFMT), as comemorações do Dia Nacional da Matemática estiveram a
cargo dos estudantes que atuam como bolsistas do Programa de Educação Tutorial (PET –
financiado pelo MEC/SESu/SECAD), que contaram com a colaboração de outro grupo de
estudantes composto por bolsistas e voluntários vinculados ao Projeto “O laboratório de
ensino e as mídias na formação dos professores de matemática” (financiado pelo MEC/SESU
por meio do ProExt) e do Pibid Matemática (financiado pela CAPES). Neste trabalho, de
pesquisa em interface com a extensão, analisamos a ação dos estudantes que culminaram nas
exposições comemorativas do Dia da Matemática para responder à questão: como a
participação na organização de uma exposição de divulgação da matemática interfere na
formação dos licenciandos?
2 Material e Métodos
O paradigma indiciário procura, “a partir de dados aparentemente neglicenciáveis,remontar a uma realidade complexa não experimentável diretamente” (GINZBURG, 1989,
p.157). Em vista disto, ele contribui para que, numa pesquisa em espaço escolar, possamos
identificar detalhes que representem inovação, fissuras nos mecanismos arraigados nas
escolas. O Paradigma indica a necessidade de reconhecimento de que diferentes leituras
sobre o real, de olhar para as práticas particulares, os interesses pessoais, as histórias de
implementação de determinadas atividades, enfim, ele nos fala de qualidades contextuais que
compõem um universal construído a partir dos irremediáveis particulares.
O paradigma indiciário também aponta para a existência de uma profunda conexão
que explicita os fenômenos superficiais, afirmando que se a realidade é opaca, existem zonas
privilegiadas - sinais, indícios - que permitem decifrá-la (GINZBURG, 1989, p. 177).
Foi a partir do ponto de vista deste paradigma que foram analisadas as ações dos
estudantes durante a organização da exposição, para que pudéssemos perceber como a
participação neste tipo de evento interfere na formação do licenciando.
3 Resultado e discussão
Em cada uma das exposições, em reunião inicial, foi pensada na estrutura da
exposição, discutimos o local na qual ela seria realizada, o orçamento, os espaços temáticos e
a distribuição das tarefas. Para a escolha dos espaços temáticos, inicialmente, tal como Silva
(2008), ponderamos que:
A resolução de problemas poderá ser uma das melhores formas para se
aprender Matemática, porém, é necessário que não seja interpretada
como um simples exercício de fixação dos algoritmos das operações
aritméticas, nem como um desafio além das possibilidades do estudante
para o qual o problema seja proposto. (SILVA, 2008, p. 279)
Mas a autora afirma ainda que
A conjunção dos processos cognitivos que são requeridos para a
compreensão de problemas matemáticos poderá ter nos jogos de regras
um poderoso aliado, uma vez que, para se jogar operatoriamente, é
necessário que haja a construção de um modelo de pensamento que
poderá ser semelhante ao modelo requerido para a resolução de
problemas. (SILVA, 2008, p. 278)
Em vista disto, decidimos que um dos espaços temáticos da exposição seria o “Resolução de
Problemas”. Então, passamos a inventariar o acervo do Laboratório, detectando jogos como
Torre de Hanói, Mancala, Dominó das Quatro Cores, Matix, Jogo da Velha 3d, e muitos
outros. Além destes, outros jogos e quebra-cabeças foram especialmente desenvolvidos por
estudantes estagiários envolvidos no projeto. Os licenciandos também construíram
experimentos e, para acompanhá-los, banneres e folhetos explicativos. Outro tema escolhido
foi “Matemática e Arte”.
A matemática e a arte nunca estiveram em campos antagônicos, pois
desde sempre caminharam juntas, aliando razão e sensibilidade. Na
verdade, podemos observar a influência mútua de uma sobre a outra
desde os primeiros registros históricos que temos de ambas. Essas duas
áreas sempre estiveram intimamente ligadas... (FAINGUELERNT,
2006, p. 18).
Considerando fatos como os acima apontados, tanto na exposição de 2011 quanto na
de 2012, foram abordadas as relações entre matemática e arte. A ideia foi levar as pessoas que
visitam a exposição a estabelecerem uma associação da linguagem matemática com a
linguagem artística favorecendo observação do espaço bidimensional e tridimensional, a
percepção de modos de representação em perspectiva, planificações, cortes e projeções,
dentre outros elementos fundamentais à aprendizagem geométrica. Em 2011, destacamos a
arte da Geometria Fractal e disponibilizamos aos vizitantes a montagem de mosaicos
geométricos, inclusive com o uso do papercraft ou pepakura. Em 2012, além de manter
esses temas/objetos, foram elaborados banneres com reproduções das obras Homem
Vitruviano (de Leonardo da Vinci), Luca Pacioli (atribuído a Jacopo de Barbari),
Composition VIII (de Kandinsky), Swirlfish e Sphere Spirals (de Escher), dentre vários
outros.
Todas essas ações foram coordenadas e monitoradas pelos três professores envolvidos
no projeto. Entretanto, tais ações não ocorriam sem que antes os estudantes fossem ouvidos,
suas sugestões acatadas ou modificadas. Após a realização das atividades, fizemos uma
reunião de avaliação. Consideramos que o objetivo da exposição foi cumprido, pois
funcionários técnicos e docentes da universidade, assim como estudantes de diferentes cursos,
se interessaram e interagiram como o material exposto. Percebemos, sobretudo, que a partir
das ações executadas os estudantes diretamente envolvidos na organização da exposição
puderam desenvolver saberes que, de outro modo, seria difícil, tais como: trabalho em equipes
interdisciplinares, desenvolvimento do gosto estético, conteúdos matemáticos que não são
abordados nas disciplinas do Curso, dentre outros.
4 Conclusões
Tem-se buscado, sobretudo nos cursos de licenciatura, que os graduandos assumam
uma atitude participativa, tornando-se protagonistas de sua própria formação. Daí a origem
da questão: como a participação na organização de uma exposição de divulgação da
matemática interfere na formação do licenciando? Para respondê-la, tomamos como
norteador o Paradigma Indiciário (GINZBURG, 1989) e analisamos as ações dos estudantes
que se envolveram com a organização de exposições comemorativas do Dia da Matemática,
tanto em 2011 quanto em 2012. Então, verificamos que tal participação permitiu que os
licenciandos avaliassem possibilidades, pesquisassem diversas fontes, identificassem e
equacionassem problemas, assumissem compromissos, desenvolvessem e compartilhassem
saberes matemáticos e pedagógicos entre si e com o público, criassem materiais didáticos.
Assim, pode-se dizer que houve desenvolvimento de competências profissionais e pessoais
por parte dos estudantes diretamente envolvidos na organização das exposições.
5 Referências
FAINGUELERNT, Estela Kaufmann. NUNES, Katia R. A. Fazendo arte com a Matemática. Porto Alegre:
Artmed, 2006. p.18)
GINZBURG, Carlo. Mitos, Emblemas, Sinais: morfologia e história. Trad. Federico Carotti, São Paulo:
Companhia das Letras. 1989.
SILVA, Maria José de Castro. O jogo como estratégia para a resolução de problemas de conteúdo
matemático. Psicol. Esc. Educ. (Impr.) [online]. 2008, vol.12, n.1 [cited 2012-02-03], pp. 279-282
Agradecimentos
Aos professores Márcia Dias A. Lima e Admur S. Pamplona. Aos vários estudantes bolsistas
e estagiários que contribuíram na organização e execução da exposição. Aos técnicos Dalva
Sabino e Éder Martins, à “turma da limpeza” e de serviços gerais (em especial ao Sr. Agenor)
e aos motoristas, pela valiosa ajuda.
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